quinta-feira, 27 de junho de 2013

26 de Junho - Dia da Aviação de Busca e Salvamento

O Dia da Aviação de Busca e Salvamento, comemorado hoje pela Força Aérea Brasileira, lembra a maior operação realizada pela FAB até a década de 60. A época 30 aeronaves voaram mais de mil horas para localizar na selva amazônica um C-47 que transportava um pelotão de Infantaria da Aeronáutica.
Foram resgatados cinco sobreviventes do avião C- 47 FAB 2068, registrado na foto abaixo.
Vem dessa operação uma das frases mais importantes da Aviação de Busca e Salvamento:

 “Eu sabia que vocês viriam!”, dita por um dos sobreviventes do acidente com o FAB 2068

O Cap. Cunha NNA, o "policial Aviadorrrr"", o Cunha Nhanhanhá, Cmt. do 68, era meu colega de turma.
Pra quem não sabe, a Sra. Marina Frazão, esposa do Brigadeiro Frazão, escreveu um romance baseado nesse acidente. Uma estória muito bonita.

O Cunha era daqueles paulistas com sotaque caipira do interior e chegou ao Campo dos Afonsos fardado de Cadete da Força Pública de SP.

Era paraquedista (Cadete que não fez a EPCAR e entra direto na Academia, Escola de Aeronáutica daqueles tempos) como eu e quando chegamos, a turma toda já havia solado no terceiro ao de BQ. Os poucos paraquedistas (os demais ficaram sem voar aguardando a nossa instrução para todos começarmos junto) puderam acompanhar sua habilidade de perto na fase pre-solo. Era de uma calma impressionante e um ótimo piloto. Passou o curso inteiro sem nenhum problema de voo.
Consta que quando ele inciou o planeio final do 2068, à noite, no meio da selva, já sem combustível, depois de voar quase oitos horas, mandou o Tenente que estava com ele para trás e se proteger. Mas o Tenente disse que ficaria até o final ao lado dele.
Faleceram os dois. O interessante é que esse acidente é muito semelhante ao do B-737 de Marabá. Com a diferença que um deve ter batido a 120 nós e o outro a uns 60.



A  missão do 2068, decolando noturno de Belem, algo absolutamente fora da rotina de segurança (o instrumento de navegação dos Douglas C-47 era apenas o Radio Compasso), foi uma medida excepcional ante a notícia de que os índios estavam cercando o Destacamento da FAB em Caximbo. O CAp Cunha e seu co-piloto foram voluntários para a missão. Era um FDS, eles, solteiros, residiam na Base e não titubearam em aceder à missão.
Eles decolaram de Belem para Jacareacanga onde reabasteceram (no tambor com bomba manual) e de lá para Caximbo.
Ocorreu que os Radio Compassos do avião deram pane eles prosseguiram assim mesmo.
Não acharam Caximbo (a pista de Caximbo era algo muito incipiente e eles teriam de pousar com balizamento de lampiões marcando a pista).
Perdidos na noite da Amazônia, ele, certamente confiantes na enorme autonomia, tentaram se localizar em quadrado crescente a partir da posição que achavam ser Caximbo (enquanto um avião pousado em Caximbo decolou e ficou circulando de faróis ligados).
Não encontrando estimaram uma proa para Manaus e não a acharam.
No final, com os motores prestes a parar, pousaram à noite, sem qualquer visibilidade, no meio da selva, muito depois de Manuas no Rio Solimões.
O avião se chocou direto de nariz com a "maior castanheira da Amazônia" e mergulhou para dentro da selva.
Foi localizado cerca de duas semanas depois.
O Cunha e seu copiloto faleceram ao primeiro impacto.

PS - Soubemos do acidente na Praia do Mucuripe (eu era instrutor na Sorbonne), o lado interno do quebra-mar formava uma praia maravilhosa e os instrutores do 1/ 4 a frequentavam, ninguém mais a conhecia (o acesso era por dentro das instalações do porto). Raposo levava sua lancha para lá e nós ficávamos o dia inteiro por la.



Paulo Pinto - Instrutor
É Oficial da Força Aérea Brasileira, hoje, na Reserva. Piloto e Instrutor de Parapente, já tendo formado cerca de duzentos e cinqüenta alunos nos últimos dez anos. É autor do MAPIL(Manual do Piloto de Parapente) e de uma série de artigos sobre Aviação e Vôo-livre publicados em jornais e revistas ligados à atividade. Subscreve também uma coluna na revista da Associação de Vôo Livre do Rio de Janeiro.
Carreira
  • Piloto de Caça com 2500 horas de vôo de Caça
  • Comandante de Esquadrão de Caça
  • Instrutor de Caça
  • Instrutor e Checador de Hercules C-130
  • Instrutor e Checador de BAC-111
  • Instrutor de Helicóptero
  • Curso de Padronização de Instrutor de Vôo
  • Curso de Padronização de Instrutor Acadêmico
  • Piloto de Linha Aérea de Avião
  • Piloto Comercial de Helicóptero
Total de horas de vôo:
7.000 em aviões militares.
Aviões voados:
PT-19 Fairchild, T-6 Texan, Fokker T-21 e T-22, T-25 Universal, T-27 Tucano,
T-33 TBird, L-6, L-42 Regente, C-45 Beech, HS748 Avro, BAC-111, EMB110 Bandeirante, Boeing 737-200, EMB120 Brasilia, C-130 Hercules, F-80 Shooting Star, Gloster Meteor, AT-26 Xavante, Bell 47 e Bell Jet Ranger. 
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